Ato I: Poeta encontra homem perdido em si

Abraçou-me uma escuridão.

O ar da cidade pesa toneladas,

A alma do ser paira n’algum lugar,

Uma sinalização luminosa não conduz a canto algum:

Já é um templo em si.

 

Não me comove o sepultamento coletivo,

Dá aval ao avanço do trem, do carro, do avião.

Um céu chora burocraticamente.

Um solo não tem por que absolver.

Um homem não tem pelo que morrer.

 

Nunca teremos uma parte desse infindável latifúndio.

Inexistimos, homem.

E ao mesmo tempo brilhamos

(na avenida, na gasolina, na margarina).

 

Somos fragmentados, homem.

Perco minha batalha para ganhares a sua.

Vivemos por alguns dias, moldaram-nos em puro ouro,

Fomos adquirido e hoje somos bibelô.

Estamos impassíveis, homem.

Imersos em sorte,

Inertes,

Fundamentados e refundamentados.

 

Tudo está na mais perfeita ordem.

A vida é bela em letras garrafais.

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Arquivado em Augusto de Sá

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